quinta-feira, 12 de abril de 2012

Rentabilização do Tempo de Treino @ Paulo Casca


“Não tenho tempo suficiente para treinar todos os aspetos do jogo que considero importantes para a minha equipa”.
Quantos de nós treinadores já fizemos esta afirmação para justificarmos uma derrota ou uma exibição mais fraca da nossa equipa? Pessoalmente, já utilizei este argumento, mas agora reconheço que a falta de tempo não é justificação para tudo e, principalmente, não podemos ser conformistas ao ponto de achar que o facto de o adversário treinar mais tempo que nós significa, a priori, que é melhor. Reconheço que uma equipa que treina mais vezes por semana deveria apresentar mais e melhores soluções, mas também considero que treinar em quantidade não significa, obrigatoriamente, treinar em qualidade.
Concordo que todos gostaríamos de ter mais tempo para treinar, mas acho que, por vezes, não aproveitamos ao máximo o tempo de treino que temos disponível. Isto leva-nos à questão central deste artigo: rentabilização do tempo de treino.
Como todos os treinadores, julgo que o jogo é reflexo do treino e, como tal, acredito que o segredo do sucesso pode estar muitas vezes na organização dos nossos treinos. Basicamente, acho que não podemos desperdiçar um minuto que seja em situações que não sejam relevantes para o jogo e esta regra ganha ainda maior importância para as equipas que treinam poucas vezes por semana. Isto implica que cada exercício de treino, desde o aquecimento até à última atividade, deve servir para a organização do jogo. Para clarificar esta afirmação, apresento algumas situações práticas:

SITUAÇÃO 1
Tradicionalmente, na parte preparatória do treino (aquecimento), os jogadores realizavam corrida contínua com exercícios de mobilização articular e geral durante 15 a 20 minutos. Para rentabilizar o treino, podemos utilizar esse tempo para os jogadores realizarem exercícios de mobilização geral com um movimento do nosso modelo de jogo, que tanto pode ser uma movimentação ofensiva/defensiva, padrão de jogo, uma bola parada ou outra situação que seja efetivamente aplicada no jogo.
Exemplo de exercício: Padrão de jogo com saída do pivot para o lado da bola:
   

SITUAÇÃO 2
Dedicamos muito tempo do nosso treino a realizar exercícios de passe/receção, condução de bola e finalização sem oposição. A verdade é que, durante o jogo, temos quase sempre um ou mais adversários a dificultar a nossa ação. Assim, sempre que possível, devemos organizar exercícios que tenham oposição porque esta situação está mais próxima daquilo que vamos encontrar no jogo. As estratégias usadas devem sempre ter como pressuposto despertar o  interesse do praticante, recorrendo a jogadas motivantes, isto é, exercícios com presença da bola, oposição, cooperação e finalização.
Exemplo de exercício: Jogo 3x3 em campo reduzido. O treinador está do lado de fora do campo com outra bola na mão. A determinada altura o treinador entrega essa bola a um jogador da equipa que está sem posse de bola. Nesse momento esse jogador ataca 1x0 enquanto os restantes fazem ataque rápido de 3x2.


SITUAÇÃO 3
Na execução de um exercício podemos abordar diversos conteúdos. Esta situação, além de aumentar o tempo útil de treino, torna o exercício muito mais dinâmico.
Exemplo de exercício: Grupos de quatro jogadores. Um grupo realiza saída de pressão e, depois de ultrapassar a 1ª linha defensiva, ataca 3x2 realizando uma transição rápida. Desta forma, no mesmo exercício, treinamos duas situações do nosso modelo de jogo, nomeadamente, saída de pressão e transição defesa/ataque.


SITUAÇÃO 4
Penso que a época de trabalhar no treino a componente física isoladamente já pertence ao passado. Deste modo, o treinador deve promover o treino integrado procurando, dentro do seu conceito de jogo, introduzir exercícios que tenham o objetivo de preparar o atleta em todas as suas vertentes: física, tática, técnica e psicológica. 
Exemplo de exercício: Situação 2x1+1. Jogador azul no canto passa a bola aos vermelhos e defende. Nesse momento o outro jogador azul que está do lado contrário faz um sprint para ajudar a defender. Os vermelhos tentam finalizar. Se os azuis recuperarem a bola podem finalizar nas balizas pequenas para promover a competitividade e tomadas de decisão. Com este exercício conseguimos trabalhar vários aspetos:
Físico: velocidade; Técnico: passe, condução de bola, finalização; Tático: transição ofensiva em superioridade numérica e contenção defensiva. Psicológico: tomada de decisão com incremento da competitividade.


Foram apresentados apenas um exemplo para cada situação, dependendo agora de cada treinador pensar e desenvolver os mais diversos exercícios que se identificam com a sua própria equipa, ainda que dentro desta temática haja muito mais a dizer e a debater.

Paulo Luis (Casca)

10 comentários:

Mais um bom artigo... isto é sem duvida aquilo que defendemos e acima de tudo tentamos passar para todos, principalmente nos cursos de treinadores, onde temos o previlégio de poder chegar perto de uma quantidade considerável de treinadores! Engraçado este ultimo exercício, não me tinha lembrado desta dinâmica com 2 balizas pequenas... e se quiseres que o 2x1 seja mais real ainda, encurtas a perseguição do defensor certo?...

Como sabes foi nesta base de trabalho que foi dado o último curso de monitores realizado na AFL e o feedback dos treinadores participantes foi bastante positiva.
Agora era importante os treinadores contribuirem neste espaço com mais algumas ideias sobre o tema porque certamente cada um de nós tem a sua forma particular de organizar os treinos.
Quanto ao exercício é apenas um exemplo dos muitos que podemos realizar e estou de acordo que os exercicios devem estar sempre o mais próximo possível das situações que encontramos no jogo.

Completamente de acordo com o artigo do Prof. Paulo Luis.
Aproveitar cada exercicio do treino para trabalhar as varias situações do proprio modelo de jogo, e pegando numa ideia base do Prof. Nuno Dias, aplicar em cada um dos exercicios certas condicionantes para conseguir fazer evoluir sempre mais o jogo colectivo e individual da equipa.

Boas. Já não vinha aqui há algum tempo, parabéns pelos 2 "reforços" para o blog, o Gabi e o Casca.

Em relação ao artigo, não podia concordar mais. Sendo que nosso tempo de treino é mesmo muito escasso, pois só treinamos com a equipa toda 1 dia por semana, a gestão deste tempo é muito complicada para mim. Nos nossos treinos o aquecimento é sempre com padrão de jogo (grande parte das vezes), foras, cantos, sistema defensivo, ofensivo, etc. Ultimamente, como estamos a chegar ao fim de uma época muito desgastante, até tenho optado por exercícios de aquecimento mais recreativos.
Os exercícios que se seguem (2 ou 3 conforme o que se tenha que trabalhar) são planeados dependendo de 4 factores: cargas físicas, necessidade de adaptar alguma coisa do nosso modelo de jogo ao adversário, assimilação de princípios e do modelo de jogo.
Depois fazemos sempre 5x5 com condicionantes, físicas, técnicas e/ou tácticas, aplicando o que fizemos nos exercícios anteriores e o que tenhamos vindo a trabalhar nos últimos treinos.

A grande dificuldade que encontro é mesmo na planificação/adaptação dos exercícios à componente física, devido a treinarmos pouco tempo. Treinamos à 4ª, em conjunto com os juniores (pois temos muitos jogadores a estudar fora) e à 6ª, no dia antes do jogo. Se jogarmos ao Domingo, também treinamos no sábado.
É um pequeno quebra-cabeças que tenho desde o inicio da época, mas que até tem corrido bem.

Abraço a todos do blog.

É isso mesmo Wilson. Ter sempre presente na organização dos nossos exercicíos o modelo de jogo que adotamos para a nossa equipa. É fundamental na preparação da época decidir o que queremos para a nossa equipa de modo a criar uma identidade própria aplicando desde o primeiro treino a nossa filosofia de jogo.

Obrigado Luís pelo teu comentário. A tua realidade é semelhante a muitas equipas do nosso distrito, nomeadamente ao nível de número de treinos e condicionantes dos atletas presentes nesses treinos. Isso faz com que seja ainda mais importante aproveitar todos os minutos e pelo que li no teu comentário parece-me que realizas nesse aspeto um ótimo trabalho.
Quanto à questão dos exercícios de componente física, a única coisa que eu te posso dizer é que com o número reduzido de treinos semanais que tens ao teu dispor é fundamental os atletas treinarem sempre em intensidades altas. A única exceção será no caso do treino ser no próprio dia do jogo porque nas outras situações eles terão tempo suficiente para estarem fisicamente disponíveis no dia do jogo e depois não te esqueças que a competição será sempre um reflexo do treino.

Os nossos treinos são sempre intensos, com exercícios com alta intensidade. Costumo dizer que não há "meios-treinos", é sempre a fundo. :)
E felizmente temos um grupo de jogadores que vão para treinar, não para ir ao treino. Há sempre as brincadeiras, que fazem parte, mas quando é para trabalhar é para trabalhar.
E concordo plenamente quando dizes que competição será sempre um reflexo do treino.

Abraço.

Muito bom artigo, aliás subscrevo as palavras aqui escritas. Agora coloco uma questão, corrida contínua no início do treino de futsal, qual o objetivo? Uma modalidade que predomina a resistência anaeróbia lática, sendo caracterizada por ser uma modalidade acíclica. A corrida contínua é do atletismo e consoante a intensidade trabalha diferentes tipos de resistência e de fibras musculares solicitadas, que normalmente não são as que predominam no futsal ou mesmo na maioria dos JDC, que são acíclicos e de mudanças de ritmo e direção frequentes. Depois queremos que os atletas tenham uma capacidade de resistência/potência para a qual não estão habituados a treinar e a recuperar. Agora coloco outra questão, sendo que a força e a velocidade devem fazer parte de um programa de treino, e como muitas das vezes também dizemos que não temos tempo para treinar estas capacidades condicionais, porque não fazer um aquecimento com exercícios de musculação e coordenação integrado nas movimentações sugeridas? Abraço e continuação de bom trabalho.

Penso que é nestas que questões e respostas que se baseia aquilo que eu chamo a nova geração do futsal em leiria, "Geração Dias", após alguns anos a lidar com ele e assistir prelecções do mesmo, conseguimos tirar grandes conclusões do seu trabalho. E penso que é por este tipo de ideias que o futsal distrital e nacional pode evoluir tanto a nivel de formação como sénior

Abraço

Não consigo perceber como ainda tanta gente consegue "preparar" uma época, um micro-ciclo, um treino que seja sem ter um modelo de jogo, uma filosofia... por trás

Faz me tanta confusão!
Não temos todos gosto de andar nisto?Interesse?

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